Autores: Egoitz Aranburu et al.

Revista: Nutrients

O glúten é a proteína armazenadora do trigo e é composto por uma complexa mistura de proteínas, principalmente a gliadina e a glutenina. Outras proteínas de armazenamento de cereais, como centeio, cevada ou aveia, também são chamadas de glúten. Os cereais que contêm glúten são alimentos básicos, mas devido à sua capacidade de atuar como aglutinante e extensor, o glúten também é adicionado aos alimentos processados para melhorar sua textura e características de umidade.

Trigo – Fonte: Freepik

O glúten é um dos fatores mais comuns na indução de sintomas gastrointestinais, também é responsável pela resposta imunogênica na doença celíaca. Esta doença causa inflamação da mucosa, atrofia das vilosidades intestinais, aumento da permeabilidade intestinal, eventual má absorção de nutrientes e subsequente deficiência nutricional. O único tratamento para a DC é seguir uma dieta rígida sem glúten.

FODMAP’s é o conjunto de alimentos fermentáveis que são mal absorvidos pelo nosso organismo e que podem causar desconforto intestinal. Eles são classificados como oligossacarídeos, dissacarídeos, monossacarídeos e polióis. Os alimentos fermentáveis referidos são os carboidratos não digeridos pelo trato digestivo humano.  Assim, esta alta osmolaridade e a formação de gases pela microbiota intestinal acabam por desencadear os referidos sintomas.

Um estudo recentemente publicado estudou por períodos distintos a influência da dieta com baixo FODMAP e glúten em sinais clínicos e psicológicos como bem-estar, inflamação e integridade da microbiota intestinal. Dezenove pacientes com SGNC e 10 indivíduos saudáveis (controle) consumiram dieta padrão com glúten antes de iniciar o estudo. Na primeira etapa, participantes consumiram dieta com baixo FODMAP por duas semanas. Após esse período, participantes realizaram período de transição de cinco dias e iniciaram a segunda parte de estudo com ingestão de dieta sem glúten por mais duas semanas.

Os FODMAPs podem induzir inchaço abdominal, dor, vômito e alteração da frequência das fezes, especialmente em pessoas que sofrem de síndrome do intestino irritável (SII). Além dos sintomas gastrointestinais, outras manifestações clínicas extra-intestinais foram atribuídas ao FODMAP e à combinação de glúten. A este respeito, distúrbios dermatológicos, como dermatites, erupções cutâneas e doenças de eczema foram detectados em ambos.

A conexão entre o glúten ou FODMAPs e o sistema nervoso central (SNC) pode ocorrer por meio de mecanismos como a permeabilidade intestinal e disbiose intestinal. Além disso, a barreira hematoencefálica (BBB) pode ser adversamente afetada.

Como esses compostos foram definidos recentemente, menos informações sobre alimentos contendo FODMAP estão disponíveis em comparação com o glúten. Alimentos com alto teor de FODMAP podem ser encontrados em alimentos básicos da dieta ocidental, como frutas e vegetais, leite e laticínios, legumes e cereais. Eles também são encontrados no trigo e no centeio, portanto, o consumo desses alimentos ou seus derivados envolve a ingestão combinada de glúten e FODMAPs.

Ambas dietas, com baixo FODMAP e glúten, mostraram melhora significativa dos sinais clínicos e psicológicos em indivíduos com SGNC. Diferenças significativas na composição da microbiota intestinal foram observadas em amostras de fezes em todos os participantes, com maior variabilidade nos pacientes com SGNC. No período da dieta sem glúten encontrou-se redução significativa dos linfócitos duodenais intra epiteliais e nas células caliciformes (produtoras de mucina). Os autores do estudo concluíram que ambas as dietas tiveram efeito funcional positivo na SGNC através da diminuição da reação do sistema imunológico e do desequilíbrio microbiano intestinal, especialmente com uma dieta sem glúten.

Diante desses resultados, parece que evitar o glúten ou reduzir seu consumo pode ser benéfico para melhorar os sintomas de depressão, ansiedade e cognição em pessoas com SII, DC e Fibromialgia. No entanto, o efeito de um LFD no desenvolvimento desses sintomas é mais incerto. Embora os resultados indiquem que a diminuição do consumo desses compostos acarreta melhora da ansiedade e da depressão, mais estudos são necessários para se chegar a conclusões mais sólidas. Acreditamos que os ensaios clínicos em andamento serão um passo adiante nessa direção.

Acesse o estudo aqui.

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