PANC: um tesouro nutritivo pouco explorado!
O Brasil é um país com uma das maiores biodiversidades do mundo, reunindo cerca de 46.000 espécies de plantas. Dessas, em torno de 3 mil são consideradas comestíveis, porém a grande maioria ainda é desconhecida e pouco valorizada, inclusive, pelos nutricionistas, as quais são chamadas de plantas alimentícias não convencionais (PANC), como a ora-pro-nóbis. Aprofundar o conhecimento sobre elas é sinônimo de inclui-las nas prescrições nutricionais, sendo importantes para as práticas que visam à promoção da soberania, sustentabilidade e segurança alimentar.
Uma riqueza de nutrientes da Mata Atlântica!
De nome científico Pereskia aculeata, a ora-pro-nóbis, também conhecida como azedinha, pertence à família Cactaceae e é nativa da Mata Atlântica, principalmente no estado de Minas Gerais. Com folhas lisas de coloração verde-escura e frutos de coloração amarelada, ela apresenta uma composição nutricional muito rica.
Sua folhas têm alto valor proteico, com rica diversidade de aminoácidos, como l-lisina e l-triptofano, sendo que aproximadamente 25% do peso seco da planta se referem às proteínas, sendo considerada uma excelente alternativa para vegetarianos e veganos, principalmente devido a sua lata digestibilidade. Ainda, é uma importante fonte de fibras, minerais (cálcio, magnésio, potássio, manganês, ferro, zinco e cobre), folato, vitamina C, β-caroteno e compostos bioativos, como compostos fenólicos, quercetina, kaempferol e ácido cafeico (GARCIA et al., 2019). Já os seus frutos apresentam grande quantidade de carotenoides.
Como consumi-la?
As folhas de ora-pro-nóbis podem ser utilizadas na culinária na forma de salada ou refogadas ou, ainda, em preparações como sopas, omeletes e tortas. Podem ser transformadas em farinha e enriquecerem pães, massas e bolos. As suas frutas são utilizadas na produção de geleias, sucos e mousses. Ainda, podem ser prescritas na forma de cápsulas à base desta PANC, como uma forma de suplementação.
Pensando ainda na forma de preparo, esta é importante para reduzir os fatores antinutricionais presentes na ora-pro-nóbis. Essa PANC apresenta, principalmente, inibidores de protease, taninos e ácido oxálico, e alguns estudos (POMPEU et al., 2014) demonstram que o seu aquecimento favoreceria a redução desses fatores, enquanto que Silveira et al. (2020) relatam que o aquecimento favoreceria uma maior concentração destes. Porém, Almeida e Corrêa (2012) citam que o teor que esta planta apresenta não seria o suficiente para formação de oxalato de cálcio, que, além de gerar depleção do mineral, pode causar nefrolitíase. Dessa forma, é importante orientar o equilíbrio na rotina do paciente, estimulando o rodízio da forma de preparo da planta.
Benefícios descritos na literatura científica
Em um estudo clínico e randomizado conduzido por Vieira et al. (2019), em homens com excesso de peso, a intervenção com biscoitos à base de farinha de ora-pro-nóbis resultou melhora significativa da saúde gastrointestinal, com redução de flatulência e melhora da saciedade. Vieira et al. (2020), em um estudo prospectivo, randomizado e duplo-cego, demonstraram que mulheres que consumiram uma bebida com adição de farinha de ora-pro-nóbis, por 6 semanas, apresentaram redução da eructação, do peso corporal, da gordura corporal e da circunferência de cintura, bem como redução da constipação e aumento da saciedade.
Dessa forma, essa PANC apresenta uma excelente composição nutricional, proporcionando benefícios potenciais para a saúde no geral, devendo fazer parte da rotina de prescrição dos nutricionistas, assegurando, ainda, a sustentabilidade e a segurança alimentar.
Fonte: E4 Nutrition
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, M. E. F. et al. Caracterização química das hortaliças não-convencionais conhecidas como ora-pro-nobis. Bioscience Journal, v. 30, p.431-439, 2014.
SILVA, A. P. G. et al. Ripe Ora-pro-nobis (Pereskia aculeata miller) fruits express high contents of bioactive compounds and antioxidant capacity. Rev Bras Frutic, v. 40, n. 3, e-749, 2018.
SILVA, D. O. et al. Acute toxicity and cytotoxicity of Pereskia aculeate, a highly nutritious cactaceae plant. J Med Food., v. 20, n. 4, p. 403-409, 2017.
SILVEIRA, M. G. et al. Nutritional assay Pereskia spp.: inconventional vegetable. An Acad Bras Cienc., v. 92, Suppl 1:e20180757, 2020.
TAKEITI, C. Y. et al. Nutritive evaluation of a non-conventional leafy vegetable (Pereskia aculeate Miller). Int J Food Sci Nutr., v. 60, Suppl1, p. 148-60, 2009.
VIEIRA, C. R. et al. Effect of Pereskia aculeata Mill. In vitro and in overweight humans: a randomized controlled trial. J Food Biochem., v. 47, n. 7, p. 1-10, 2019.
LIMA, R.C. Plantas Alimentícias Não Convencionais: Uma revisão sistemática dos artigos indexados a partir de estudos realizados no Brasil. 2020. Trabalho de Conclusão de Curso – Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2020.
POMPEU, D.G. et al. Fatores antinutricionais e digestibilidade “in vitro” de folhas de Pereskia aculeata Miller. BBR, v.3, n.1, 2014.
VIEIRA, C.R. et al. A beverage containing ora-pro-nobis flour improves intestinal health, weight, and body composition: A double-blind randomized prospective study. Nutrition, v.78, 2020.
ALMEIDA, M. E. F.; CORRÊA, A. D. Utilização de cactáceas do gênero Pereskia na alimentação humana em um município de Minas Gerais. Ciência Rural, v. 42, n. 4, p. 751-756, 2012.