O herbicida, que é o mais utilizado no mundo e conhecido como a “estrela dos agrotóxicos”, devido aos prejuízos, toxicidade e mortes que causa, caminha a passos largos para a proibição definitiva no México.

Ao que tudo indica, o Brasil, que teve recorde de liberação de agrotóxicos nos últimos 18 meses por parte do governo federal, deve ficar para trás em relação ao México. Isso porque o país da América do Norte caminha para a proibição definitiva do uso desse perigoso agrotóxico. Através de sua secretaria de meio ambiente e recursos naturais, o México passa a firmar medidas de proibição total do uso do glifosato até 2024.

Os prejuízos à saúde

Existem diversas evidências científicas que comprovam a toxicidade do glifosato e os impactos graves que causa à saúde humana, de outros seres vivos e do meio ambiente. Recentemente, um estudo publicado na Revista International Journal of Epidemiology, avaliou os efeitos carcinogênicos resultantes à exposição aos pesticidas, incluindo o glifosato.

A pesquisa, que coletou amostras de exames e fez o acompanhamento e monitoramento de mais de 315 mil agricultores nos Estados Unidos, Noruega e França, por um período de 10 anos, constatou que o herbicida glifosato aumenta em 36% o risco de câncer, especialmente do linfoma não-Hodgkin.

O estudo serviu para endossar resultados anteriores que já tinham sido publicados na Revista Mutation Research, que mostraram que a exposição ao glifosato aumenta o risco de desenvolvimento de linfoma não-Hodgkin em 41%. Tais análises tiveram como objetivo identificar as probabilidades de agricultores que utilizam esses agentes, contraírem esses tipos de tumores em comparação a agricultores que não os usam, independente da duração e intensidade de exposição aos produtos.

Além disso, o glifosato está classificado entre pesticidas com grau de toxicidade elevado, tanto que foi classificado por organizações como a Rede de Ação Contra Agrotóxicos (PAN, em inglês), como altamente perigoso. A classificação é feita a partir de critérios da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO), uma vez que considera esses ativos tóxicos e capazes de causar alterações no DNA, além de seu potencial cancerígeno ou fatal para abelhas e outros polinizadores.

O caso do México e outros países que já proibiram o uso do glifosato

Um dos maiores inimigos da nutrição atual, embora ainda seja o agrotóxico mais utilizado do mundo, o glifosato já foi banido ou teve seu uso limitado em alguns países europeus, incluindo os Países Baixos, Dinamarca e Suécia. Além disso, a Áustria foi o primeiro país da União Europeia que proibiu por completo o uso do pesticida, justificando a ação como um “princípio de precaução”.

No México, as decisões se embasam também nos efeitos prejudiciais que o agrotóxico pode causar à saúde, uma vez que o tema é uma causa de luta de vários anos por parte do governo mexicano e que, agora, começa a se refletir em medidas que objetivam transformar o sistema agroalimentar do país e torná-lo mai seguro, saudável e harmonioso com o meio ambiente.

Para o governo mexicano, um dos marcos pelo fim do uso do glifosato aconteceu em novembro de 2019, com a recusa da secretaria de meio ambiente e recursos naturais em importar mil toneladas do herbicida, com base no princípio da prevenção de riscos em questões ambientais. Outro ponto foi a criação do Grupo Intersecretarial de Saúde, Alimentação, Meio Ambiente e Competitividade, que teve o objetivo de lançar uma visão nacional aos principais problemas de saúde e ambientais, oferecendo apoio total à política da secretaria e emergindo a necessidade de tomar decisões urgentes em defesa das questões ambientais em prol da saúde e bem-estar da população.

Além dessas questões, o governo mexicano, em conjunto com o Conselho Nacional de Ciência e Tecnologia, busca alternativas ao uso do glifosato, por meio de métodos aplicados com eficácia há milhares de anos por agricultores e comunidades indígenas.

Brasil caminha na contramão da proibição

O atual presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, jamais escondeu seu compromisso com o agronegócio e, prova disso foi que, entre outras medidas, nos últimos 18 meses houve recorde de liberação do uso de agrotóxicos no país. Em um levantamento feito pela Conexão Planeta, apenas durante a pandemia de Covid-19, foram aprovados 118 agrotóxicos, dos quais 84 são voltados à agricultura e 34 à indústria.

Durante esse mesmo período, mais de 216 solicitações de registro de pesticidas por parte de empresas produtoras, foram feitas ao Ministério da Agricultura, possivelmente motivadas pelo registro “automático”, que facilitou mais ainda a comercialização desses produtos no país.

A lista de agrotóxicos liberados no Brasil, que ultrapassa 2 mil tipos comercializados, produzem efeitos danosos e extensos à saúde humana e ao meio ambiente. O país, inclusive, é um dos maiores consumidores de agrotóxicos do mundo, o que se deve à legislação permissiva brasileira, que faz daqui uma verdadeira fonte de renda para as principais companhias agroquímicas do mundo.

Bayer, Basf e Syngenta, grandes produtoras de agrotóxicos, encontram no Brasil um de seus principais mercados, uma vez que colocam nas prateleiras nacionais, produtos que são proibidos até mesmo na União Europeia, onde tais empresas são sediadas. Apenas em 2018, foram vendidas mais de 63 mil toneladas de apenas 10 tipos de agrotóxicos, conforme o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama).

O perigo iminente dos agrotóxicos

Além dos inegáveis prejuízos à saúde para quem os manuseia, os agrotóxicos também geram diversos prejuízos a quem os consome e ao meio ambiente. O Fipronil, por exemplo, é conhecido por ser um poderoso exterminador de abelhas. Em 2019, o produto dizimou mais de 500 milhões delas. A substância foi proibida em 2004 na França, depois de exterminar 40% das abelhas dos apiários no país.

Outro agrotóxico polêmico é o inseticida Clorpirifós, que está sendo banido e limitado em diversos países depois que estudos começaram a apontar sua relação com a má formação cerebral em bebês. Em reportagem do El País, pesquisas da OMS e da Agência Internacional para Pesquisa sobre Câncer, comprovaram a ligação do glifosato com o surgimento de graves doenças como depressão, autismo, infertilidade, Alzheimer, Parkinson e câncer.

Esses produtos, que estão em processo de banimento em diversos países do mundo, são livremente comercializados no Brasil. Produtos que contam com glifosato, por exemplo, receberam aval do governo para serem comercializados como qualquer outro produto de uso doméstico, trazendo apenas um símbolo de atenção na embalagem.

Vale ressaltar que existem mais de 200 tipos de produtos comercializados no Brasil que possuem glifosato em sua composição e a maior parte deles é utilizado no controle de pragras das plantações de soja, café, feijão, maçã e uva.

A pergunta que fica é, até quando vamos caminhar por trilhas tão preocupantemente contrárias à responsabilidade humana e ambiental?

Fonte: GreenMe / G1/ El País/ Planeta Orgânico/ Reportagem Brasil

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