A maior pesquisa de opinião já feita sobre mudanças climáticas, aponta que quase dois terços das pessoas no mundo enxergam a questão climática como uma “emergência global”, mas a mudança na alimentação não é a resposta desejada para a maioria.
O Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), em parceria com a Universidade de Oxford, realizaram um inquérito com mais de 1 milhão de pessoas em 50 países, quase metade dos entrevistados tinha entre 14 e 18 anos. Pela primeira vez, uma pesquisa de opinião pública é feita em tão larga escala e tem tantos países participando sobre o tema “mudanças climáticas”.
Os resultados gerais do estudo apontam que entre jovens e idosos, 64% dos participantes enxergam as mudanças climáticas como uma emergência global. Uma ideia que teve maior apoio no Reino Unido e Itália, onde mais de 80% dos entrevistados eram a favor. A maioria das faixas etárias envolvidas concordam com essa percepção.
A conservação de florestas e terras foram soluções populares entre os participantes, assim como o uso de energia renovável. Para países de alta renda, uma maioria significativa de entrevistados apoiou a redução do desperdício de alimentos. Mas, entre todas as opções apresentadas para solucionar o problema das mudanças climáticas, a menos favorecida pelos participantes foi a mudança dos hábitos alimentares para uma dieta plant based, alternativa apoiada apenas 30% e sem conseguir atrair o apoio da maioria em nenhum país. Os participantes que mais apoiaram essa medida de mudança alimentar para promover a desaceleração das mudanças climáticas, tiveram mais apoio na Alemanha (44%) e no Reino Unido (43%).
O potencial da dieta plant based para o meio ambiente
Conforme o relatório da ONU sobre mudanças climáticas de 2020, uma mudança relacionada às dietas baseadas em vegetais seria uma das formas mais significativas de reduzir os gases de efeito estufa que partem do setor agrícola. Segundo o documento “dietas balanceadas, com alimentos à base de plantas, como aqueles à base de grãos, legumes, frutas e vegetais, nozes e sementes, e alimentos de origem animal produzidos em sistemas resilientes, sustentáveis e de baixa emissão, apresentam grandes oportunidades de adaptação e mitigação, gerando co-benefícios significativos em termos de saúde humana”.
A pesquisa do PNUD não fez a definição de dietas plant based para os entrevistados, portanto, afirma que a baixa pontuação observada para a adoção dessa alternativa, não significa que as pessoas são contra ela. “Esta poderia ser uma oportunidade importante para a educação adicional sobre esses tópicos”, aponta o estudo, acrescentando que “em alguns países, há poucas opções baseadas em plantas. Em outros, pode não haver conhecimento significativo sobre essas opções. Em outros, as pessoas podem ter sentido que a dieta é mais uma escolha pessoal do que algo que pode ser “promovido””.
O professor da Universidade de Oxford, Steven Fisher, disse ao FoodNavigator que “O relatório não especula que a educação para a sensibilização do aumento e entendimento da importância da dieta baseada em vegetais é um problema”.
Por que as pessoas não abrem mão da carne?
Conforme a Associação de Fornecedores Independentes de Carne do Reino Unido (AIMS), a descoberta do estudo está relacionada simplesmente às preferências das pessoas. “Os consumidores continuam a comprar carne porque gostam de comer carne”, explicou o porta-voz da associação ao FoodNavigator. “Eles apreciam os benefícios óbvios para a saúde que ela oferece a suas dietas e com razão estão se afastando do “sermão” dos promotores de dietas à base de plantas”, polemiza.
O Conselho de Desenvolvimento de Agricultura e Horticultura (AHDB) lançou uma campanha publicitária de 1,5 de libras chamada “comer balanceado”, transmitida pela TV e que incentiva famílias britânicas a continuar consumindo carne e laticínios como parte de uma alimentação balanceada. A British Meat Processors Association ponderou, apontando que, conforme os consumidores se informam sobre os impactos dos diferentes alimentos sobre sua saúde e do planeta, a produção de carne e laticínios de forma responsável, toma um papel cada vez mais importante.
“A nova pesquisa da ONU sugere que as pessoas preferem mudar outros aspectos de seu estilo de vida para ajudar o meio ambiente do que eliminar dois dos elementos nutricionalmente mais importantes de sua dieta, a carne e os laticínios”, comentou um porta-voz da associação que prosseguiu dizendo “E, como eles percebem que a pecuária sustentável pode ser parte da solução para a mudança climática, a escolha entre esses alimentos integrais naturais e as novas alternativas à base de plantas de ultraprocessados se tornará mais fácil de fazer”.
O porta-voz da British Meat Processors Association acrescentou, ainda, que os consumidores da Grã-Bretanha e do mundo, estão cada vez mais conscientes sobre as diferenças dos sistemas agrícolas e estão notando que desistir de comer carne britânica trará menos benefícios ambientais do que desistir de consumir carne brasileira.
Sam Feltham, diretor da organização de caridade Public Health Collaboration, que promove os benefícios ambientais e de saúde das carnes, disse ao FoodNavigator que “Também estamos muito preocupados com as mudanças climáticas e concordamos com a maioria das pessoas que mudar para uma dieta baseada em plantas é a solução menos favorável. O gado bem administrado a pasto é uma das formas mais poderosas de sequestrar o carbono do solo e a única maneira de torna-la uma solução sustentáel seria manter a carne e os produtos animais em nossa dieta”.
Vale ressaltar que, ainda que seja um percentual baixo pelo volume de participantes e países da pesquisa, 30% de pessoas dispostas a adotarem uma dieta plant based em prol do meio ambiente não é um resultado tão desanimador e eliminar produtos de origem animal da dieta demonstra, constantemente, diversos benefícios tanto à saúde das pessoas quanto ao meio ambiente. Portanto, ainda que seja através de um processo de longo prazo, a adoção da dieta plant based será uma tendência cada vez mais crescente entre a população, assim como a conscientização não apenas sobre os impactos ambientais causados pelo consumo de carne, mas também sobre a ética e o respeito aos animais implicado nesse processo.
Fonte: FoodNavigator